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Pensamentos sobre Suicídio

Suicído

“O suicídio é o ato de pôr termo à própria vida e o suicida é aquele que morre por suas próprias mãos ou que tenta ou tem tendência para o suicídio. Um suicídio só é suicídio se ocorrer morte. Uma pessoa que tentou acabar com a sua vida e não o conseguiu não é um verdadeiro suicida”. (Stengel, 1964), citado por (Saraiva, 2006)

O suicídio tem como desfecho a morte. É caracterizado pelo planeamento cuidadoso e pelo emprego de métodos realmente mortais.

No Mundo

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), suicidam-se diariamente em todo o mundo cerca de 3000 pessoas – uma a cada 40 segundos e, por cada pessoa que se suicida, 20 ou mais cometem tentativas de suicídio.

À escala mundial, o suicídio apresenta uma taxa de mortalidade global de 16 por 100.000 habitantes, constituindo a 13ª causa de morte; a 3ª no grupo etário dos 15 aos 34 anos; a 2ª nos jovens dos 15 aos 19 anos.
 

As tentativas de suicídio representam a 6ª causa de défice funcional permanente. Os dados da OMS indicam que as taxas de suicídio aumentaram 60% nos últimos 45 anos, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento.

Em termos mundiais, uma estimativa da expressão do suicídio como relevante problema de saúde pública considera que representou, em 1998, 1,8% do total da carga global das doenças, valor que ascenderá a 2,4% em 2020.

Embora a taxa de suicídio, tradicionalmente, seja maior entre os idosos, tem vindo a aumentar entre os estratos populacionais mais jovens, de tal forma que estes representam agora o grupo de maior risco em um terço dos países, tanto desenvolvidos como em desenvolvimento, perspetivando-se que nos países em crise económica e social esta tendência se acentue.

Sendo de considerar o suicídio como um problema de saúde pública, com interesse para todos os profissionais de saúde e população em geral, que devem ver-se investidos, na compreensão e resolução deste fenómeno, refere que “o suicídio é um importante problema de saúde pública, sendo responsável por 0,4 a 0,9% de todas as mortes. A incidência anual do suicídio varia de 10 a 20/100.000 habitantes no mundo todo e as taxas de tentativa de suicídio são pelo menos 15 vezes mais 7 altas”.

 

Na Europa
Na maioria dos países da Europa, o número anual de suicídios supera o das vítimas de acidentes de viação: nos 27 países da União Europeia a taxa média de suicídio por 100.000 habitantes foi, em 2010, de 9,4 enquanto o número de mortes por acidentes de viação foi de 6,5 por 100.000 habitantes, variando as taxas de suicídio entre o máximo de 28,5 na Lituânia e 2,9 na Grécia.

 

Em Portugal

Em Portugal, a taxa de suicídios por 100.000 habitantes, em 2010, foi de 10, taxa superior à de quaisquer outras mortes violentas, nomeadamente por acidentes de viação e acidentes de trabalho. Estes dados, embora assaz preocupantes, ficam, porém, muito aquém da realidade, porquanto o suicídio constitui um fenómeno reconhecidamente subdeclarado, pois a morte por suicídio é, ainda, uma morte fortemente estigmatizada por razões de ordem religiosa, sociocultural e política. Mas também porque a atribuição da causa suicida nem sempre é evidente, exigindo a utilização de recursos diagnósticos nem sempre disponíveis.

A taxa de mortalidade padronizada por suicídio variou, nos últimos cinco anos avaliados, entre os valores de 7/100.000 e 8/100.000 habitantes, com um aumento em 2012 (1015 óbitos). Dentro destes valores globais destaca-se o mais expressivo, na faixa etária dos 65 ou mais anos de idade, com uma taxa de 21,1/100.000 em 2012.

Em doentes não psiquiátricos, há uma maior incidência de suicídio quando diagnosticados com doenças terminais (5% do número total de suicídios). Está também muito relacionado com perdas interpessoais específicas recentes, perdas financeiras ou perda de status social, (Halles et al.,2006)

 

Segundo o sexo e local de residência

A taxa de mortalidade por suicídio é maior nos homens em todas as regiões de Portugal Continental e 4 a 6 vezes superior quando comparada com as taxas de suicídio nas mulheres. Considerando em específico as diversas regiões, o Alentejo é a Região com a taxa mais alta de suicídio em Portugal, tanto nos homens como nas mulheres, com um valor de 44,1/100.000 hab., no caso dos primeiros. Seguem-se as regiões do Algarve, Lisboa e Vale do Tejo (LVT) e Açores.
 

Segundo o grupo etário

A análise dos dados da distribuição da taxa de suicídio nos homens mostra que três regiões de Portugal Continental (Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo), apresentam padrões semelhantes na sua distribuição ao longo das faixas etárias.

 Este padrão é diferente nas regiões do Norte e do Algarve, onde a taxa de suicídio nos homens é superior no intervalo de idades entre os 55-64 anos quando comparada com a mesma taxa no intervalo dos 65-74 anos.

Nas mulheres, o padrão nas regiões do Norte, Centro e LVT é caracterizado por uma diminuição da taxa de suicídio na faixa etária dos 75 e mais anos, comparando com o intervalo de idades imediatamente anterior. No entanto, isso não acontece nas regiões do Algarve e do Alentejo, verificando-se um aumento da taxa de suicídio quando consideramos os mesmos intervalos.

Na Região dos Açores destacamos a preocupante taxa de suicídio em jovens do sexo masculino com idades entre os 15 e os 24 anos, acima dos 10/100.000, bem como a taxa mais elevada de todo o país na faixa etária entre os 35 e os 44 anos (41,6/100.000), que nesta Região se destaca quando comparada com as restantes faixas etárias.

 

Relativamente ao método mais utilizado para o suicídio, nos homens são utilizados métodos mais letais do que nas mulheres embora desde 1996 prevaleça o mesmo método utilizado pelos homens.

 

A comparação das taxas de suicídio padronizadas entre os Estados Membros da União Europeia mostra que Portugal teve uma das taxas mais baixas de suicídio em 2011 (7,7/100.000), a par de outros países do sul da Europa. Esta taxa é substancialmente inferior à média da União Europeia (10,2/100.000). No entanto, quando consideramos a faixa etária dos 65 e mais anos, verificamos que a taxa de suicídio em Portugal é superior à média Europeia para ambos os sexos, influenciada pela taxa de suicídio nos homens (36,1/100.000 hab.), muito superior à taxa média Europeia (29/100.000 hab.).
As perturbações mentais, particularmente a depressão e o consumo abusivo de bebidas alcoólicas, constituem um fator de risco significativo para o suicídio na Europa e América do Norte, enquanto em países asiáticos a impulsividade desempenha um papel considerável.

Em Portugal é urgente colocar em prática o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio definido para o período de 2014 a 2017, na medida em que, o suicídio tem um grande impacto na saúde pública, houve um aumento significativo nas taxas de suicídio na última década, bem como, dos fatores de risco tal como os problemas de saúde mental.

Este Plano Nacional de Prevenção do Suicídio contempla medidas universais, destinadas à população em geral, medidas seletivas, para grupos de risco específicos e medidas indicadas para indivíduos em elevado risco.

 

Algumas das estratégias fundamentais a implementar, contempladas neste plano são:

  • Iniciar a caracterização da situação de forma rigorosa, nomeadamente no que se refere a uma mais correta identificação dos comportamentos auto lesivos e atos suicidas;

  • Aumentar os níveis de bem-estar psicológico;

  • Aumentar a acessibilidade aos cuidados de saúde;

  • Reduzir o acesso a meios letais;

  • Melhorar o acompanhamento após alta de internamento hospitalar;

  • Melhorar a informação e educação em saúde mental;

  • Diminuir o estigma em torno da depressão, ideação suicida, comportamentos auto lesivos e atos suicidas;

  • Sensibilizar os “ para a necessidade de aplicação dos princípios definidos para a informação/descrição de comportamentos auto lesivos e atos suicidas;

  • Reduzir os comportamentos auto lesivos e atos suicidas;

  • Aumentar o acompanhamento de pessoas com ideação suicida, comportamentos auto lesivos e atos suicidas ao nível dos cuidados de saúde primários;

  • Implementar uma maior restrição ao consumo de bebidas alcoólicas;

  • Aumentar o horário de atendimento de linhas de telefones SOS;

  • Aumento da cobertura nacional de consultas de prevenção de suicídio, promovendo a existência de, pelo menos, uma resposta especializada e acessível em cada hospital com valência de psiquiatria;

  • Promover campanhas de prevenção nas escolas (incluindo alunos, assistentes operacionais, professores e família), através do combate ao estigma em saúde mental, identificação de fatores de risco e protetores da sintomatologia depressiva, ideação suicida, comportamentos auto lesivos e atos suicidas.
     

É no âmbito destas recomendações que se enquadra esta estratégia de intervenção comunitária através desta via de comunicação, a internet, tendo como objetivo principal:
- Melhorar a informação e educação em saúde mental e  

- Diminuir o estigma em torno da depressão, ideação suicida, comportamentos auto lesivos e atos suicidas

 

Os programas de prevenção devem ser implementados de forma rigorosa, em estreita consonância com o planeado e previamente testado tendo em consideração que “por cada suicídio várias pessoas são atingidas a nível familiar, escolar, laboral e/ou comunitário”, (GOBP – OE, 2012), o que comprova o que (Adriano Vaz Serra, 2006), referiu sobre este assunto, “…Ninguém morre sozinho. No mundo que é abandonado pelo suicida, ficam os familiares e os amigos que sofrem…”.

 

 

Referências

Plano Nacional de Prevenção do Suicídio

 

Diário da República, 1ª série – nº47, 6 de março de 2008 - Plano Nacional de Saúde Mental

 

GOBP - OE, (2012). Guia Orientador de Boas Práticas para a Prevenção de Sintomatologia Depressiva e Comportamentos da Esfera Suicidária. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros - Cadernos OE.WWW.dgs.pt - Programa Nacional para a Saúde Mental – Saúde Mental em números 2014

 

Schmitt R., Chachamovich E., Kapczinski F. (2001). Risco de Suicídio: Avaliação e Manejo. Cap.9, P.149-165 in Quevedo J.: Emergências Psiquiátricas. Porto Alegre: Artmed Editora S.A.

 

Townsend, M. C. (2000). Enfermagem Psiquiátrica – Conceitos de cuidados. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan

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