top of page

A fase adulta do Ciclo Vital

 

Tendo em conta alguns pressupostos no que se refere ao ciclo vital das pessoas, desde o nascimento até ao fim da vida, de que,

 

- O desenvolvimento ocorre em estágios sucessivos e bem definidos numa sequência invariável,

- Numa ordem constante na vida de todos e que,

- Cada estágio é caracterizado por eventos ou crises que devem ser satisfatoriamente resolvidos (princípio epigenético de Erik Erikson) e ainda que,

- Cada estágio contém uma característica dominante, ou um ponto de crise que o distingue das fases precedentes ou posteriores, podemos dizer que,

 

A Fase Adulta do ciclo vital, é a era ou estágio da maturidade sexual para os relacionamentos interpessoais íntimos e cooperativos, bem como atitudes amorosas e desenvolvimento do amor-próprio. Em que a personalidade do indivíduo vai ser determinada pela qualidade da interação social com outras pessoas e embora amplamente moldada por eventos externos 1, estudos mais recentes (George Vaillant), mostram que a Maturidade/ Imaturidade da personalidade,  depende mais do desenvolvimento interior, do que de mudanças no ambiente interpessoal. O ego vai criando mecanismos de defesa, por processos ou estilos adaptativos, que amadurecem com o tempo, dependendo por isso a Saúde mental, da maturidade dessas defesas, e estando relacionada tanto com a psicopatologia de cada individuo, quanto com a adaptação ao ambiente externo.

 

Erik Erikson, numa perspetiva evolutiva e aceitando a teoria de Freud sobre a sexualidade infantil,  via potencialidades de desenvolvimento nos 8 estágios da vida, atribuindo a cada um deles uma crise maturacional, que deveria ser resolvida para passagem a fase seguinte , atribuiu à idade adulta dois estágios:

 

- Estágio 6 - Adulto jovem (18 a 25 anos ou dos 20 aos 30 anos): Intimidade versus Isolamento (No estabelecimento de uma identidade definida, o sujeito estará pronto para unir-se à identidade de outrem. Essa fase é caracterizada por esse momento da união, o que sugere à associação de um ego ao outro. Para que haja uma associação positiva é necessário que o indivíduo tenha construído um ego forte e autônomo, para assim, aceitar o convívio com o outro ego, numa perspetiva mais íntima. Quando isso não acontece, isto é, o sujeito não construiu um ego seguro, a pessoa irá preferir o isolamento, numa tentativa de preservar esse ego)

 

- Estágio 7 - Adulto (28 a 65 anos ou dos 30 aos 65 anos): Generatividade versus Estagnação (Momento em que o indivíduo se preocupa com o que gerou o que foi gerado. Preocupa-se com a transmissão de valores de pai para filho e sente que sua personalidade foi enriquecida, somada, Dessa forma, acredita-se que seu conhecimento foi repassado e que deixou um pouco de si nos outros. Caso isso não aconteça, o sujeito acredita que toda a sua construção não foi produtiva, uma vez que não terá como dar prosseguimento aos seus projetos).

 

Mais recentemente, Daniel Levinson apresentou um novo esquema das fases adultas do ciclo vital composto por 4 períodos principais com a duração de 25 anos, podendo haver alguma sobreposição entre essas eras ou períodos etários:

Idade Adulta Inicial (dos 17 aos 45 anos);

-  Idade Adulta Média ( dos 40 aos 65 anos);

-  Idade Adulta Tardia ( a partir dos 60 anos) 

                                                       Crises mais importantes na fase adulta

                                                                                            É importante conhecer as características de desenvolvimento desta                                                                                             fase do ciclo vital pela expecificidade dos problemas ou crises                                                                                             inerentes à fase adulta. Só assim se podem reconhecer os                                                                                             problemas específicos que podem ocorrer nesta fase e adaptar as                                                                                             estratégias, tanto a cada uma das perturbações adaptativas que                                                                                              podem surgir, como às necessidades de crescimento e                                                                                             desenvolvimento nos adultos.

                                                                                            A idade adulta é quando o crescimento e desenvolvimento físico                                                                                             atinge o seu ponto máximo, é quando a capacidade funcional, que evoluiu a partir da maturação das capacidades físicas e mentais e de aprendizagem, atinge o seu auge, sendo um dos períodos mais estáveis do ciclo vital com poucas mudanças em termos físicos, em que o acontecimento fisiológico principal dos anos da fase adulta, é a menopausa. Já em termos de mudanças psicológicas decorrem da necessidade de responder amplamente aos vários acontecimentos de vida ou as chamads crises que nesta fase exigem uma grande capacidade de adaptação.

Adams & Lindeman, citados em (Phipps et al., 1990) definem crise como
“Qualquer situação que exige a um individuo ou um grupo mobilizar novos recursos ou dominar novas aptidões “.

Brunner & Suddarth (1988) definiam crise como: “um estado de desequilíbrio resultante da desproporção entre a dificuldade percebida pela pessoa num evento fortuito e seus mecanismos de adaptação e apoios situacionais atuais para lidar com esse fator gerador de tensão”

Existem dois tipos de crise:

Crise maturacional ou vital “quando um individuo se muda de um estado de desenvolvimento para o outro” e “Ocorre como resultado de períodos transicionais durante as fases de desenvolvimento psicossocial, que requerem que a pessoa faça muitas alterações de caráter”.
São exemplos nesta fase adulta:
Dos (20-30 anos) - Intimidade versus Isolamento, onde a tarefa evolutiva principal a cumprir, é a aquisição da Intimidade, onde a pessoa desenvolve a capacidade de amar, de desenvolver compromissos com outras pessoas e de entrar em verdadeiras relações mútuas.
O Isolamento é o perigo, onde a pessoa permanece distante dos outros, se recolhe, entra em relações superficiais ou desenvolve preconceitos. Erickson citado por (Phipps at al., 1990) e (Brunner e Suddarth 1988).

Nesta fase o adulto jovem confronta-se com algumas tarefas a desenvolver:

- desempenho da carreira/escolha de uma vocação
- envolvimento social e desenvolvimento de um sentido de responsabilidade social
- iniciação e manutenção de uma família/ escolha de um parceiro e educação dos filhos
- escolha de um estilo de vida

 

A idade adulta é muitas vezes comparada à maturidade e caracteriza-se habitualmente por:

- um sentido de responsabilidade,
-manutenção de controlo apropriado dos impulsos,

- capacidade para planear e implementar objetivos realistas;

- capacidade de entrar em relações intimas

- capacidade para confiar.

 

A incapacidade para desenvolver qualquer forma de intimidade, faz com que a pessoa desenvolva crescentes sentimentos de isolamento, alienação e alto absorção.
A imagem corporal e a sexualidade assumem nesta fase uma importância relevante e qualquer alteração numa delas coloca uma ameaça à imagem positiva do corpo e à identidade sexual.
O suicídio é uma das principais causas de morte neste grupo etário, embora sejam os acidentes a causa principal de morte entre os jovens adultos.

 

Dos (30-65 anos) Generatividade/ Produtividade versus Estagnação/Auto absorção, onde a tarefa principal a cumprir é a preocupação de estabelecer e guiar a geração seguinte, alcançar a capacidade de produtividade e criatividade, um sentimento de gratificação devido a realizações pessoais e profissionais e contribuições com significado para outros. Ser ativo no serviço para com a sociedade e na própria sociedade, demonstrar a satisfação com este estádio de vida e responsabilidade por deixar o mundo um lugar melhor onde viver, demonstrando a preocupação em relação aos outros num sentido mais amplo.
A estagnação ou auto-absorção, revela falta de preocupação pelo bem-estar dos outros e total preocupação consigo próprio. Afastamento e isolamento, tornando-se altamente indulgente consigo mesmo, sem capacidade de se dar aos outros. A tarefa continua por resolver quando as tarefas anteriores do desenvolvimento, não foram realizadas e o individuo não consegue alcançar o grau de maturidade necessário para obter gratificação a partir da preocupação pelo bem-estar dos outros.  Erickson citado por (Phipps at al., 1990) e (Brunner e Suddarth 1988).

 

Nesta fase o adulto médio confronta-se com algumas tarefas a desenvolver:

-Ajudar as crianças a tornar-se adultos responsáveis
- Dominar o papel de transição (adaptar-se a alterações na imagem pessoal, estilo de vida, valores e atitudes)
- Renovar e continuar as primeiras relações (adaptar-se à saída dos filhos de casa e enriquecer a relação íntima do casal)

- Ajustamento aos pais em envelhecimento (aceitar a experiência inevitável da perda de pessoas significativas)
- Reavaliação dos objetivos de vida (procura de maior realização pessoal, satisfação, e utilidade)
- Desenvolvimento das atividades de tempos livres do adulto ( maior investimento em atividades na comunidade, participação e responsabilidade social, conquistar aprovação do mundo exterior)

 

Uma das principais mudanças fisiológicas, que vão sendo graduais, reside na menopausa, aparecimento de cabelos cinzentos, pequenas rugas no rosto, pele seca evidenciando sinais de elasticidade decrescente, perda de visão (presbiopia), entre outras.

Os principais problemas de saúde deste grupo etário, são a doença cardiovascular, as neoplasias, doenças pulmonares, artrite reumatoide, diabetes, obesidade, alcoolismo, ansiedade e a depressão. O suicídio continua a ser uma causa importante de morte entre os adultos de meia-idade.

Em termos psicológicos, está muitas vezes associado às alterações hormonais que acompanham a menopausa, sendo por isso mais frequente alterações de humor, nas mulheres.

Nem todas as pessoas chegam à idade adulta com o mesmo nível de maturidade, a capacidade intelectual a maturidade emocional e as características físicas variam de pessoa para pessoa e um adulto que parece razoavelmente maduro sobre circunstâncias normais pode, quando sob stress, manifestar comportamentos imaturos, tornando-se mais exigente, muito crítico ou perder o controlo. 


Crises situacionais, consistem "na procura de novos recursos ou domínio de novas aptidões e que não ocorrem previsivelmente em relação com o desenvolvimento da maturação das pessoas" (Phipps et al., 1990).
 São exemplos de acontecimentos que podem produzir exigências adaptativas situacionais:

  • A doença;

  • Os acidentes;

  • As perdas de alguém;

  • O divórcio;

  • Um novo emprego;

  • A fama

  • A universidade;

  • A escolha de companheiro;

  • O casamento;

  • As exigências do emprego

  • A criação dos filhos;

  • Outras situações provocadoras de stress

                                              (Phipps et al., 1990)

As crises situacionais interatuam com o estado de desenvolvimento ou maturação da pessoa ou da família e a capacidade biológica e social para enfrentar as exigências da situação dependem por um lado do estado de maturação e por outro dos sistemas de apoio social e físico, disponíveis no ambiente. Por exemplo, a mal nutrição a curto prazo pode alterar permanentemente a capacidade intelectual da criança cujo cérebro ainda se está a desenvolver (consultar melhor a página “A Ovelhinha Preta” deste site para informação mais detalhada sobre o desenvolvimento da criança e perturbações associadas a essa fase do ciclo vital), mas provoca apenas apatia temporária num adulto.

 

A adaptação, segundo o modelo adaptativo de Roy, refere-se a “processos, em interação com as exigências ambientais, que promovem a integridade do individuo em relação à sobrevivência, crescimento, reprodução e autodomínio” e para os antropologistas a adaptação é definida em termos da “evolução das populações ou grupos para irem ao encontro das exigências ambientais em mudança”. Para os biólogos consideram a adaptação como processos que restauram a homeostasia ou equilíbrio dos sistemas do ambiente interno quando o sistema está perturbado. Outros autores sugerem uma classificação de adaptação por níveis do sistema biopsicológico. Ao nível biológico a adaptação é dirigida para a sobrevivência ou estabilidade dos processos interiores. Ao nível psicológico o objetivo da adaptação é a preservação da identidade individual e do amor-próprio. Ao nível social, a adaptação fornece

  1. A definição de modos de adaptação para os indivíduos

  2. Sistemas de apoio para dominar as tentativas

  3. Antecipação de tarefas comuns de desenvolvimento


O modelo adaptativo de Roy também se processa por níveis semelhantes aos níveis de Grinker onde a adaptação ou reações positivas às exigências ambientais está ligada à saúde e apesar das várias definições de adaptação existem traços comuns que podem servir de guia na ajuda às pessoas, grupos e populações a interagir com os seus ambientes:

  1. A adaptação é um processo que caracteriza os sistemas vitais em interação com os seus ambientes.

  2. Estes ambientes podem ser internos ou externos ao sistema vital

  3. Os estímulos resultantes em adaptação podem ser de desenvolvimento (ou de maturação) ou crise situacionais que ocorrem na vida diária

  4. Os processos de adaptação conduzem ao crescimento e à autonomia, assim como à preservação e à estabilidade

  5. O domínio e o stress são conceitos relacionados com a adaptação; domínio sugere as estratégias de adaptação, e stress conota-se muitas vezes com reações que determinam as capacidades adaptativas.


Neste processo adaptativo o resultado final não é apenas a estabilidade mas também o crescimento à medida que os organismos e espécies desenvolvem novas maneiras de comportamento, tanto biológico como socialmente. Dubos citado por Phibbs, et al., 1990) compara este processo à medida que cada adaptação cria exigências para uma maior adaptação em planos mais elevados de sucesso. As criaturas vivas como sistemas abertos, comportam-se de maneira que não apenas preservem ou protegem a sua existência (sobrevivência) mas também que permitem o crescimento e o empenhamento (With, 1974) citado por (Phibbs et al., 1990)

                                        Principais perturbações mentais

 

                                                                                          Segundo dados do estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental                                                                                           (Caldas de Almeida J. & Xavier M., 2013) as perturbações psiquiátricas                                                                                            afetam mais de um quinto da população portuguesa. São destacadas                                                                                           como tendo maior prevalência as perturbações da ansiedade e as                                                                                            perturbações depressivas, seguidas das perturbações da impulsividade                                                                                           e perturbações do abuso e dependência do álcool. O gráfico seguinte                                                                                           reflete estes dados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(fonte: Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, 2013)    

 

 

Assim parece-nos pertinente a abordagem destas perturbações, neste site direcionado para o adulto. Abordaremos assim cada uma em particular, de forma a poder fornecer informação sobre estas. Ainda incluímos outro tipo de perturbações sendo abordadas de forma geral. As outras perturbações abordadas são: esquizofrenia, perturbação bipolar, perturbação de stress pós-traumático, perturbação obsessivo-compulsiva, perturbação de pânico, perturbações alimentares e doença de alzheimer. Esperamos contribuir desta forma para a informação e para a literacia em saúde.

 

 

Referências

Sullivan, H. , in (Kaplan & Sadock, 1990)

Kaplan & Sadock, (1990), (Brunner & Suddarth, 1988)

Direção Geral de Saúde. (2014). Portugal – Saúde Mental em Números. Lisboa: Direção Geral de Saúde.      (obtido de http://www.google.pt/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=18espv=2&ie=UTF-8# )

bottom of page